Mostra registra a passagem de tempo e ocupações das mulheres durante a URSS
Museu da Cidade de São PetersburgoQue imagem vem a mente quando se pensa em mulheres na União Soviética? Uma proletária, comunista, esposa, ou mãe? Ou, talvez, soldado ou cosmonauta? As mulheres soviéticas eram tudo isso e muito mais.
Este é a ideia apresentada na mostra “Superwoman: Work, build and don’t whine” (“Supermulheres: Trabalhar, construir e não choramingar”, em tradução livre), atualmente em cartaz na GRAD Gallery, em Londres.
Além de palestras e exposição de cerâmica, fotografias, cartões postais, cartazes e esculturas da propaganda soviética, o especial dedicado ao legado dessas ‘supermulheres’ terá ainda a exibição de filmes temáticos.
‘Mães, não beije seus filhos nos lábios e não deixe que mais ninguém os beijem", 1920 Imagem: Museu da Cidade, São Petersburgo
Papel feminino na URSS
As mulheres estiveram fortemente envolvidas na primeira revolução de 1917 em Petrogrado (atual São Petersburgo). No Dia da Mulher, originalmente celebrado em 23 de fevereiro na Rússia, as mulheres se uniram a um grupo de operários para protestar contra o racionamento de alimentos pelo governo tsarista.
A Rússia se tornou a primeira grande potência mundial a conceder às mulheres o direito de votar e legalizou o aborto em março de 1917. A primeira Constituição da União Soviética, publicada em 1923, reconheceu oficialmente a igualdade de direitos para as mulheres, inclusive em termos de remuneração.
Com a fundação da URSS, o intelectual marxista Leon Trótski começou a criar a imagem do “homem do futuro” – e também a da “supermulher”. Assim como os homens, as mulheres deveriam de ser igualmente altruístas, instruídas, saudáveis, fortes e entusiasmadas em espalhar a revolução socialista. Tudo isso, é claro, sem deixar as obrigações familiares e o trabalho de casa de lado.
Após o fim da primeira Guerra Mundial e da Guerra Civil na Rússia, a proporção de mulheres para homens havia crescido substancialmente. Em 1926 havia 71 milhões de homens para cerca de 76 milhões de mulheres.
Grande parte do trabalho para ajudar o líder soviético Iossif Stálin a atingir suas metas econômicas de rápida industrialização caíram, assim, sobre as mulheres.
Cartaz de autoria desconhecida expõe condições de trabalho em cozinha industrial, em 1927 Imagem: Museu da Cidade, São Petersburgo
O número de mulheres na força de trabalho aumentou em mais de quatro vezes dos quase três milhões em 1928, quando Stálin anunciou seu primeiro plano quinquenal industrial, para mais de 13 milhões em 1940.
Além disso, a enorme perda de soldados durante a Segunda Guerra Mundial fez com que as mulheres em idade ativa ultrapassem em 20 milhões o número de homens após 1945. Às vésperas da década de 1960, 57% dos operários na força de trabalho entre 40 e 50 anos eram mulheres. A norma tornou-se, então, trabalhar fora.
“As mulheres soviéticas enfrentaram dois grandes desafios: elas estavam sob pressão para trabalhar por longas horas e, ao mesmo tempo, tinham de ajudar a Rússia a aumentar a população gerando o maior número de crianças possível”, disse à Gazeta Russa a curadora da exposição em Londres, Natalia Murray, antes de acrescentar que “a situação não melhorou muito hoje”.
“No entanto, um aspecto positivo de as mulheres na Rússia ter garantido direitos iguais aos dos homens já em 1920 é que, há quase 100 anos, as mulheres foram encorajadas a ter uma boa instrução. Por isso, estão agora muito mais integradas na economia russa do que as mulheres em muitos países da Europa ocidental.”
Presidium da 3ª conferência de Toda Rússia sobre ensino pré-escolar Foto: Museu da Cidade, São Petersburgo
Diversidade em cartaz
A exposição no Reino Unido conta a história das “supermulheres” na propaganda oficial do regime soviético e contrasta-a com a realidade cotidiana de milhões de mulheres na época para levantar a questão: o que significa ser verdadeiramente livre?
Um dos principais destaques da mostra é uma versão em miniatura de bronze da icônica escultura de Vera Múkhina “Operário e Mulher Kolkosiana”, que foi emprestado pela Galeria Tretiakov, em Moscou.
Além dele, estão expostos cartazes de Aleksandr Deineka, um dos principais proponentes da arte de vanguarda para o proletariado, e imagens de arquivo nunca antes expostas que documentam a “sovietização” da mulher pelas repúblicas.
‘Trabalhar, construir e não choramingar’ (1930), de Aleksandr Deineka, 1930 Imagem: Museu da Cidade, São Petersburgo
A parte cinematográfica da exposição, curado pela empresa Thea Films, imagens de arquivo das mulheres que participaram na Revolução de Fevereiro, o trabalho no Jenotdel (seção das mulheres) na década de 1920 e filmagens da libertação de mulheres da Ásia Central.
A ideia é proporcionar um escopo completo e expor a escala de trabalho com a qual as mulheres se comprometeram por toda a extensão da União Soviética, segundo Dolya Gavanski, diretora da Thea Films.
“Não acho que seja possível falar de um tipo único de mulher soviética. Mesmo os ideais mudaram ao longo do tempo e, assim, a imagem oficial da mulher perfeita”, diz Gavanski.
“A disparidade entre a realidade e a propaganda às vezes beirava o absurdo, e até mesmo as imagens em si, muitas vezes, carregam certas discrepâncias. É muito interessante exploras essas várias camadas.”
‘Mulher com jarro’ (1924), de Piotr Galadschev Imagem: Arquivo Alex Lachmann
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