Voluntários ajudam a construir instalações e produzir alimentos
Anastassia SemenovitchFaz bem mais de mil anos desde que os vikings, também conhecidos como varegues, chegaram à Rússia. Porém, o tempo parece estacionado em um canto minúsculo no noroeste do país, perto da fronteira com a Finlândia – e uma fortaleza varegue entre as árvores parecer resistir ao tempo.
Pedras de granito, vikings de aparência bruta e longas barbas, e um arsenal completo de machados, espadas e armaduras de metal compõem o cenário da fortaleza Svargas. Nas proximidades, há uma ferraria, uma cozinha de pedra, uma fornalha de pão e cabras pastando. Os símbolos da civilização contemporânea não encontram espaço ali. Não há eletricidade, gás ou qualquer tipo de conveniência moderna.
Para voltar ao tempo com os varegues é até simples: basta pegar um trem (geralmente, lotado) de São Petersburgo a Viborg (130 km milhas a noroeste) e, em seguida, tomar o ônibus Svetogorsk e descer no ponto entre o lago Petrovskoie e o rio Vuoksa.
Criada por entusiastas mais de 10 anos atrás, como um sítio “arqueológico alternativo”, a fortaleza Svargas é um modelo em menor proporção de uma aldeia varegue do início do século 11. Lá, os visitantes podem passar um dia – um mês, ou até um ano – conforme as tradições antigas e o estilo de vida dos varegues.
Primeiro contato
“Meu nome aqui é Goeling. Já para cá há cinco anos”, conta Aleksandr Rusakov, que eventualmente atua como ferreiro no local.
“Tudo começou de forma bem simples. Meus amigos e eu estávamos passando e decidimos parar e dar uma olhada, porque parecia um local tão interessante. Então participamos de uma luta de espadas, praticamos arremesso de machado. Depois disso, comecei a vir com frequência. Este lugar tem uma energia boa, especial”, diz.
Aleksandr Rusakov, também conhecido como Goeling Foto: Anastassia Semenovitch
Rusakov mora em Viborg, onde tem mulher e filho. Mas, segundo ele, sempre sentiu-se atraído pela vida medieval e gasta todo o seu tempo livre em Svargas.
“Também faço muitas coisas úteis para a vida cotidiana aqui, como maçanetas e pequenos objetos de metal”, conta. Outros frequentadores ou moradores da fortaleza também produzem artigos de couro semelhantes aos utilizados no século 10, e até mesmo a culinária local segue os princípios do original “mingau varegue”.
A fortaleza Svargas não recebe financiamento do Estado, e toda a estrutura e serviços são mantidos com doações e incentivos privados. Os trabalhos de construção ficam por conta dos próprios visitantes ou moradores, que hoje somam cerca de 30 pessoas.
Mingau varegue é especialidade local Foto: Anastassia Semenovtich
Mitos quebrados
Apesar de manterem as tradições e costumes dos antigos vikings, os moradores de Svargas não demonstram interesse por encenações históricas.
“Os encenadores [entusiastas que recriam eventos ou períodos históricos específicos] muitas vezes tentam ganhar dinheiro com algo que não conhecem realmente”, disse Aleksandr Nikolaiev, chefe do projeto. “É um movimento para quem se anima com manequins e adereços. Os vikings não usavam capacetes com chifres. De um modo geral, existem muitos mitos acerca desse período”, acrescenta.
Os moradores de Svargas querem “trabalhar seus sentimentos”, segundo Nikolaiev, e conversar com as crianças sobre história. Por isso, costumam convidar alunos de escolas próximas, com seus professores de história, para visitar a fortaleza. Segundo o diretor do projeto, “tudo começou como uma grande caixa de areia para uma criança”. Seu filho Ígor tinha sete anos quando, fascinado pela história viking e pelo início da Idade Média, decidiu construir a aldeia murada.
Em 2008, Nikolaiev conheceu o professor Anatóli Kirpítchnikov, que havia feito uma classificação das primeiras armas medievais. Desde então, Svargas afastou-se do conceito de encenação histórica e evoluiu para um estilo de vida dos habitantes. Kirpítchnikov se tornou um cidadão honorário da comunidade e aconselha os moradores sobre detalhes da vida cotidiana naquele período.
“Até tentamos recriar a produção de ferro a partir de minério de pântano”, conta Nikolaiev. “Acabou sendo um grande desafio, mas estamos trabalhando nisso.”
Moradores locais "trabalham seus sentimentos", diz organizador do projeto Foto: Anastassia Semenovitch
Bons de briga
No arsenal, cercado por muros de pedras frias e luz de velas, há diferentes machados e espadas, como as usadas por carolíngios, como eram chamado os aristocratas francos que governaram a Europa ocidental nos séculos 8 e 9.
“Os varegues resolviam todos os problemas na luta. Dois homens sairiam pelo portão, e apenas um voltaria”, disse Voldemar, que fica responsável pelo arsenal.
Gostaria de receber as principais notícias sobre a Rússia no seu e-mail?
Clique aqui para assinar nossa newsletter.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: