A história por trás da foto: o sorriso do veterano

Quem é Anatóli Golimbiévski, o veterano amputado que, sobre um carrinho, esboça sorriso em foto premiada pelo concurso World Press Photo? A Gazeta Russa inicia, com esta, uma série de reportagens sobre imagens célebres cujas histórias são pouco conhecidas do grande público.

 

Foto premiada é amplamente divulgada na imprensa e na internet, mas poucos conhecem a história do marinheiro e engenheiro Anatóli Golimbiévski.Foto premiada é amplamente divulgada na imprensa e na internet, mas poucos conhecem a história do marinheiro e engenheiro Anatóli Golimbiévski.

O ano é 1989. Quatro soldados batem continência a um homem no passeio à beira mar em Leningrado. Cabelos brancos, ele leva um paletó repleto de condecorações e sorri. O soldado mais próximo de si na fila parece retribuir o gesto, mesmo sem fitá-lo diretamente, o olhar distante no horizonte. O veterano não tem as pernas, movimenta-se sobre um carrinho e pega impulso com ajuda de apoios, aparentemente de ferro, que bate no chão.

Esta imagem foi clicada pelo fotógrafo Ivan Kurtov e rodou o mundo, vencendo na categoria "Daily Life" do concurso "World Press Photo". O homem no carrinho, cujo rosto esboça um sorriso, é o veterano da Marinha soviética Anatóli Leopôldovitch Golimbiévski.

Piloto do contratorpedeiro "Soobrazítelni", foi o único a sobreviver no seu grupo, o primeiro a combater na baía de Tsemess (por vezes, também chamada de baía de Novorossisk), localizada na costa russa ao norte do Mar Negro, durante a Segunda Guerra Mundial.

O marinheiro do Exército Vermelho integrou a primeira tropa de desembarque da infantaria marinha a aportar no campo de operações militares "Málaia Zemliá" (do russo, "Terra Pequena"). Golimbiévski foi encontrado no campo de batalha, já sem sinais vitais, com ferimentos graves nas pernas e braços.

Foi reanimado e saiu com vida do hospital de Tbilisi, capital da Geórgia. Seus atos heróicos foram registrados apenas pelo ex-comandante do contratorpedeiro Soobrazítelni, o contra-almirante Serguêi Stepánovitch Vorkov:

"…Aldeia de Miskhako. Sofrida Málaia Zemliá. Em Novorossisk, Anatóli Golimbiévski foi aceito pelo Partido. Em brasa, devido ao tiroteio ardente com armas automáticas, vestindo sua camisa listrada de marinheiro em frangalhos, ele abria caminho furiosamente. Só ia em frente. Para cima do inimigo... Tropeçou em rajadas de metralhadora. Saltou e caiu de novo. Com despeito, sentiu o joelho - estava ensopado de sangue. Cerrando os dentes, rastejou para frente, para onde corriam os outros.

Logo Golimbiévski penetrou no bunker inimigo, ocupado por 30 soldados das tropas de desembarque, e fez com eles a defesa por dois dias.

No terceiro dia, ferido também na outra perna, rastejou sozinho para o ninho de rajadas de metralhadora. Certeiro, lançou uma granada. O fogo inimigo acertou sua mão direita. Ele voltou para junto dos companheiros. Vivos, só restavam quatro. Só no sétimo dia de insuportáveis estrondos, sede e fome, foi colocado na lancha.

No hospital de Guelendjíkski, depois de examiná-lo, o cirurgião disse:

- Gangrena gasosa. Só amputando a perna... Você concorda?

- Quero viver! - respondeu Golimbiévski."

Superação e amor à vida

O veterano teve as pernas amputadas então. Nem por isso parou no tempo, e não deu trégua às dificuldades. Casou-se com a enfermeira-chefe do hospital, a georgiana Mirtsa. Com ela, teve uma filha, Tamara. Viu nascerem netos e bisnetos.

Suas "mãos de ouro" tiveram enorme utilidade no Instituto de Metrologia, onde estudam-se medidas. Lá foi engenheiro-chefe e fabricou milhares de mecanismos, instrumentos e dispositivos.

Dirigia sozinho pela cidade e para o campo em um automóvel que adaptou com as próprias mãos às novas necessidades.

"Viveu até os 80 anos de idade e trabalhou, praticamente, até seu último dia de vida. Um verdadeiro exemplo de coragem e otimismo", conta o  fotógrafo Kurtov, que registrou esta imagem.

Morreu em 2001, e seu contagiante amor à vida ficou gravado para sempre na foto premiada, que foi publicada, primeiramente, na revista Smena, considerada um dos veículos mais progressistas na URSS de então.

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