Ao longo da história, dietas variaram conforme padrões de beleza
Alena RepkinaTradicionalmente, considerava-se na Rússia que as moças deveriam ser encorpadas, e a magreza era atribuída a problemas de saúde. Ekaterina I, por exemplo, foi até forçada a ganhar peso antes de seu casamento com o imperador Piotr I. A mesma regra era aplicada aos homens, e a abundância também era valorizada nas refeições. A fama dos almoços russos se estendia muito além das fronteiras do país - os melhores pratos eram servidos em quantidades enormes aos convidados. Mas, apesar de tudo isso, existem alguns segredos russos para manter a forma.
1. A dieta dos camponeses
Ilustração: Aliona Répkina
Entre os camponeses, ser magro era uma condição natural, para a qual contribuíam o trabalho físico constante e a frequente escassez de alimentos. A partir de meados da primavera, os camponeses iam para os campos de cultivo, onde permaneciam trabalhando o dia todo e chegavam até a pernoitar. Não costumavam levar muita comida com eles para o campo, somente pão e leite talhado em uma jarra, pois outros alimentos poderiam estragar rapidamente no calor (o kvas, uma bebida feita a partir da fermentação de pão de centeio, e o leite talhado eram as bebidas preferidas dos camponeses russos). Eles também comiam tudo o que crescia nas hortas e na floresta: repolho, nabo, azedinha (erva semelhante ao espinafre), bagas e cogumelos – todos alimentos com baixo teor calórico. Os doces eram inacessíveis aos camponeses comuns, pois o açúcar era muito caro, assim como o mel, que era usado apenas em feriados e como medicamento.
2. Os períodos de jejum ortodoxos
Ilustração: Aliona Répkina
As tradições ortodoxas também contribuíam para que as pessoas se mantivessem magras naturalmente. De acordo com as leis da igreja, todas as quartas e sextas-feiras são consideradas dias em que se deve jejuar. Nesses dias, além de ser proibido o consumo de carne, derivados de leite e ovos, costuma-se restringir a quantidade de comida em geral. Além disso, quatro vezes ao ano devem ser cumpridos jejuns prolongados. A Quaresma (na primavera) e o jejum de inverno, que antecede o Natal, duram 49 dias. Mais algumas semanas, dependendo da data da Páscoa, são destinadas ao jejum de Pedro (ou dos Apóstolos) e ao jejum da Assunção. Nos períodos de jejum, especialmente nos mais rigorosos, recomendava-se evitar o consumo de qualquer proteína de origem animal e até mesmo óleos vegetais em alguns dias da semana, além de restringir a quantidade de comida ingerida. Antes da confissão e da comunhão, procedimentos que deviam ser realizados regularmente, também era exigido um jejum de no mínimo três dias.
3. A bânia (sauna russa)
Ilustração: Aliona Répkina
Na Rússia, a bânia também era um meio eficaz de impedir o excesso de peso, e os russos a frequentavam todos os sábados. Além de ser considerado um modo de prevenir doenças, acreditava-se que a água e o vapor lavavam não só a sujeira, mas também os maus pensamentos e os pecados. De acordo com os fisiologistas contemporâneos, a sauna ajuda a manter a forma porque a exposição do corpo a altas temperaturas, seguida por um brusco resfriamento, provoca a eliminação do excesso de água do organismo, bem como a aceleração dos processos metabólicos. Antigamente ninguém ia à bânia com intenção de emagrecer, mas hoje a sauna se transformou em uma estratégia muito popular entre os russos para manter a forma.
4. A dieta do imperador
Ilustração: Aliona Répkina
Ao contrário das parcelas mais humildes da população, a elite da sociedade russa possuía condições de custear qualquer excesso em termos de comida e tinha que pensar sobre como controlar o seu consumo. Piotr I (1689-1725), por exemplo, foi lembrado como um governante esbelto e de boas proporções, que dispensava grande atenção à sua dieta. O imperador fazia suas refeições muito cedo: antes das 5 horas da manhã, tomava o desjejum rapidamente, para ter tempo de cumprir toda a sua agenda, e almoçava no máximo ao meio-dia. Geralmente, seu cardápio consistia de schí, uma sopa de repolho fermentado que ele gostava que estivesse bem encorpada, carne assada de pato fria ou leitão frio em creme de leite, presunto ou queijo. Piotr I também gostava muito das frutas do jardim imperial. Em outras palavras, o tsar preferia uma dieta de proteínas e legumes, combinada com frutas frescas.
5. Renunciar ao jantar
Ilustração: Aliona Répkina
No Império Russo, a elite também conhecia a prática de renunciar ao jantar para manter a forma. Esse fato até foi destacado pelo escritor russo Ivan Gontcharov, em seu romance “História Comum". Um de seus personagens, um homem que ocupava uma boa posição em São Petersburgo, achava que o hábito de jantar era atributo de camponeses e caipiras. Muitos imperadores, como Nikolai I (1825-1855), também não costumavam jantar. A renúncia a essa refeição noturna era facilitada pelo hábito de almoçar tarde: em São Petersburgo, o almoço era feito em torno das 17 ou 18 horas.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: