Literatura russa: quando ler o quê

Tipo de tradução também pode influencia na hora de escolha de obras

Tipo de tradução também pode influencia na hora de escolha de obras

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Existe época certa para ler os russos? Por qual autor começar? Qual obra? E as traduções, como escolher? Perguntas difíceis que podem ter várias respostas. Cada leitor deve buscar a sua.

Certa vez, um amigo meu passou por uma grave crise de saúde e ficou alguns dias hospitalizado. Pensando no tédio do quarto de hospital, comprei uma tradução de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski,e levei pra ele de presente. Esse episódio agora faz parte do anedotário de nossa amizade. Ele adora contar e recontar como se sentiu torturado por aquela leitura.

Esse é um exemplo de presente certo na hora errada; tenho certeza de que meu amigo teria adorado Crime e Castigo em outro momento da vida. Assim como aconteceu com ele, muitos começam a ler os grandes romances de Dostoiévski ou Liev Tolstói na hora errada e nunca mais se animam a tentar de novo. Outros devoram as centenas de páginas desses clássicos em poucos dias e transformam-se em fãs eternos. Não há receita pronta, mas algumas dicas podem ajudar na escolha.

Os mais conhecidos e mais traduzidos

Fiódor Dostoiévski

Retrato de Fiódor Dostoiévski por Vassíli Perov, 1872.

Para quem gosta de romances densos e longos, há várias opções: Os Irmãos Karamázov, O idiota, Crime e Castigo...

As novelas são uma boa alternativa para quem começou, mas não conseguiu terminar os romances: Gente Pobre, Noites Brancas, Niétotchka Niezvânova...

Uma faceta pouco conhecida de Dostoiévski pode ser encontrada em O crocodilo, novela cômico-satírica de 1864.

Liev Tolstói

Lev TolstóI

Os leitores mais familiarizados com os romances do século XIX vão gostar de Anna Kariénina e Guerra e Paz, clássicos lidos, discutidos e adaptados no mundo inteiro.

As novelas e contos longos, como Padre Sérgio, A morte de Ivan Ilitch, Três mortes e O diabo, são uma boa amostra para quem não tem fôlego para romances.

Duas opções para sair do trivial: Contos da nova cartilha e a peça (sim, Tolstói também foi dramaturgo!) O cadáver vivo.

Anton Tchékhov

Anton Tchekhov / TASS

Mais famoso como dramaturgo e contista.

Há várias seleções de contos curtos publicadas no Brasil: Os melhores contos de Tchékhov, A dama do cachorrinho e outros contos, A corista e outras histórias...

Os contos longos e as novelas revelam outro lado do escritor: O beijo e outras histórias, Minha vida...

Para quem gosta de ler peças, há diversas opções: As três irmãs, A gaivota, Os males do tabaco, Ivanov...

Quem prefere ser espectador em vez de leitor, pode ficar de olho na programação dos teatros da cidade onde mora. Tchékhov tem sido grande fonte de inspiração para a maioria das companhias teatrais brasileiras.

Aleksandr Púchkin

Retrato de Aleksandr Púchkin por Orest Kiprensky

Para os russos, o maior e o melhor de todos os tempos. Iniciador da literatura russa moderna, um gênio da poesia e da prosa.

No Brasil, não é tão popular quanto Dostoiévski e Tolstói, mas muitas de suas obras já foram traduzidas: A dama de espadas, Noites egípcias, Eugenio Oneguin, Contos de Belkin, O negro de Pedro, o Grande...

Nikolai Gógol

Retrato de Nikolai Gogol por Fyodor Moller

Seu O inspetor geral é uma das peças russas mais conhecidas entre nós.

Os críticos dividem sua obra em duas fases: ucraniana e petersburguesa. Ambas encontram-se disponíveis em traduções brasileiras. Da primeira, Vii, Tarás Bulba, A terrível vingança... Da segunda, Almas mortas, O nariz, O capote, Avenida Niévski...

Obviamente, essa lista não esgota nem autores nem obras. São apenas sugestões citadas de memória. Quanto às traduções, merecem um post especial. Por enquanto, posso dizer que o mais importante é saber identificar os vários tipos e fazer uma escolha consciente.

Indiretas: grande parte das traduções mais antigas é indireta, feita a partir de traduções em inglês ou francês.

Diretas: a maior parte das traduções mais recentes, sobretudo das últimas duas décadas, é direta do russo; nelas são destacados o nome do tradutor e a edição russa usada como referência.

Mais anotadas: algumas editoras apostam nas notas explicativas, prefácios, posfácios e ensaios complementares.

Menos anotadas: outras preferem textos mais “limpos”, sem notas.

“De grife”: com o aumento do número de traduções diretas, alguns tradutores se destacam e os próprios leitores começam a identificar os seus tradutores preferidos.

Plagiadas: fuja delas! Antes de comprar, consulte o blog de Denise Bottmann “Não gosto de plágio” 

Finalmente, acompanhe os lançamentos e comece a identificar temas, gêneros e tendências com os quais você mais se identifica. E presenteie os amigos. Na hora certa!

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