O que está retratado em ‘Ivan, o Terrível, e seu filho Ivan”, a mais vandalizada das pinturas?

Tela já foi esfaqueada e atacada com um poste de cordão de isolamento do museu que destruiu seu vidro protetor e resultou em cortes na obra.

Acredita-se que o Ivan, o Terrível, tenha matado seu filho durante uma briga familiar, depois de a mulher do filho passar pelo tsar de combinação (mostrar as roupas íntimas ao tsar era uma enorme afronta).

Outra lenda reza que foi um desentendimento político o motivo da agressão entre os dois. Ivan, o Terrível, teria balançado seu bastão e esmagado acidentalmente a cabeça do filho antes de tentar desesperadamente conter a perda de sangue dele, sem sucesso.

O filho Ivan, de 27 anos, era o único herdeiro do trono, e seu irmão mais novo, Fiódor, era considerado portador de transtornos psiquiátricos. A pintura retrata o filho Ivan à beira da morte, perdoando o pai ao segurar solenemente um dos ombros de Ivan, o Terrível, com a mão direita.

Faltam evidências para que os historiadores esclareçam a razão por trás da morte do jovem, mas, graças, em parte, à famosa pintura de Iliá Répin, a maior parte das pessoas hoje acredita que seu pai tenha sido o responsável pelo ocorrido.

Criação

Esboço para estudo da pintura.

A pintura de Répin foi inspirada no assassinato do imperador russo Aleksandr 2°, em 1º de março de 1881. As touradas, que Répin testemunhou durante suas viagens pela Europa, em 1883, também foram uma fonte importante de inspiração, especialmente quanto à representação do sangue.

“Desgraças, morte, assassinatos e sangue têm um certo poder de atração. Naquela época, todas as exposições na Europa tinham muitas pinturas sangrentas. Eu devo ter sido infectado com essa sanguinolência, porque assim que cheguei em casa, comecei imediatamente a trabalhar na cena de Ivan e seu filho. E a representação do sangue acabou tendo enorme sucesso”, escreveu Répin.

O processo de criação causou impacto sobre o artista. “Eu pintei em arrebatamentos, sofri, duvidei, editei e reeditei o que já tinha sido feito, escondi a pintura desiludido, depois a peguei e trabalhei nela novamente. Por vezes, eu tinha medo... Meus amigos também tiveram essa impressão da pintura. Mas algo me levou a terminá-la.”

A pintura teve diversas outras versões antes de Répin estabelecer a cena final. Inicialmente, Ivan segurava o bastão na mão, mas ele acabou no chão.

De censura a vandalismo

Uma parte da pintura danificada por Abram Balachov.

Assim que foi concluída, a pintura começou a gerar controvérsias. Aleksandr 3° não era fã da tela, por isso, em 1885, proibiu que ela fosse exibida ao público - a primeira vez que isto ocorria na Rússia!

Mas, três meses depois, a proibição foi suspensa e Pável Tretiakov, que havia comprado a pintura de Répin, passou a exibi-la.

Até a atualidade, a pintura já foi alvo de ataques duas vezes. A primeira foi em 1913, quando o pintor de ícones Abram Balachov, de 29 anos, proveniente de uma família dos Velhos Crentes, esfaqueou a parte da tela que retrata os rostos de Ivan e seu filho com uma faca, deixando três longos cortes.

Enquanto fazia isso, Balachov gritava: “Chega de morte, chega de derramamento de sangue!”. Depois de saber do incidente, o curador da galeria Tretiakov, Gueórgui Khruslov, suicidou-se, jogando-se debaixo de um trem — ele teria se sentido extremamente envergonhado de sua equipe não ter mantido a pintura em segurança.

Répin, que tinha 68 anos na época, não estava certo de que poderia salvar a obra de arte, mas, no final das contas, conseguiu restaurá-la. Balachov não foi preso pelo crime. Diagnosticado com transtornos psiquiátricos, foi enviado a um hospício. Mas logo foi liberado a pedido do pai, que gozava de influência.

As consequências do vandalismo em 2018.

O segundo ato de vandalismo contra a obra ocorreu 105 anos depois, em 25 de maio de 2018. Um homem correu no salão da Galeria Tretiakóv onde a pintura estava exposta cinco minutos antes de o local fechar e bateu na pintura com um dos postes de metal da própria galeria usados para apoiar as correntes de proteção.

O vidro que cobria a pintura se partiu e danificou a tela e a moldura. Desta vez, os rostos de Ivan e seu filho não foram danificados - apenas o corpo do filho de Ivan foi cortado.

O responsável pelo vandalismo, Ígor Podporin, aos 37 anos foi pronunciado são. Em 30 de abril de 2019, foi condenado a cumprir uma sentença de 2,5 anos de prisão. Os danos causados por ele são estimados em 30 milhões de rublos (R$ 1,8 milhão) e a pintura está sendo restaurada.

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