Em grande parte dos casos, criminosos se aproveitavam da inocência alheia
Getty ImagesCerca de US$ 21 bilhões deixaram a Rússia sob circunstâncias duvidosas via Moldávia e Letônia entre 2011 e 2014. Este canal de lavagem de dinheiro foi exposto em uma investigação conduzida por uma organização anticorrupção e publicada pelo jornal “Novaia Gazeta” no último dia 20.
No esquema, corporações fictícias estrangeiras assinavam contratos de empréstimo falsos, e, em seguida, empresas russas e moldavas que atuavam como avalistas eram “forçadas” a reembolsar esses créditos, baseando-se em processos judiciais de falência. Assim, o dinheiro deixava o país como “reembolso de empréstimos”.
Apesar de a estratégia ter sido revelada apenas agora, os esquemas de lavagem de dinheiro para contornar os regulamentos federais são uma prática antiga entre alguns magnatas russos. A seguir, a Gazeta Russa apresenta três outras formas condenáveis de burlar o sistema que se mostraram “eficazes” na história recente do país.
1. Produção cinematográfica
Em maio de 1988, a URSS legalizou as cooperativas, que foram as primeiras associações empresariais privadas do país. Em dezembro do mesmo ano, o Conselho de Ministros proibiu as cooperativas de se envolverem na produção cinematográfica, porém, o cinema cooperativo se tornou uma fonte de lavagem de dinheiro.
Esses filmes tinham péssimos roteiros e baixo valor de produção, e eram criados por estúdios de cinema independentes que contornavam o Estado. Para os envolvidos na indústria cinematográfica, os filmes produzidos por cooperativas se tornaram uma grande fonte de renda durante a perestroika e o início dos anos 1990. Para a classe emergente de “novos russos”, tais filmes eram uma maneira de lavar dinheiro, porque precisavam fazer algo com os volumes consideráveis de dinheiro ilegal que haviam sido acumulados com atividades ilícitas. Como resultado, o dinheiro “sujo” se tornou uma importante fonte de financiamento para o cinema russo.
“Lavar dinheiro por meio de cooperativas se tornou uma boa oportunidade, e o mecanismo era simples: um oligarca ou um bandido davam US$ 1 milhão para fazer um filme. Uma vez que o dinheiro era descontado, o diretor devolvia entre US$ 900 mil e US$ 950 mil ao patrocinador e produzia o filme com o restante”, explicou o diretor Andrêi Smirnov, ex-diretor da União de Cinematógrafos, em um documentário sobre a produção cinematográfica naquela época.
Com o início das privatizações em 1992, não havia mais necessidade de lavar dinheiro por meio de filmes, e as cooperativas de cinema entraram em declínio.
2. Subordinados como ‘laranjas’
Em 2013, o Banco Central russo revogou a licença do Master Bank. A instituição financeira, que havia sido um dos principais bancos da Rússia por mais de 20 anos, não passava, na realidade, de uma “grande lavanderia financeira”.
De acordo com o Banco Central, o Master Bank movimentou cerca de US$ 3,5 bilhões em transações duvidosas, usando um esquema típico de pequenas e médias empresas: altos executivos cooptavam subordinados para sacar fundos.
Faxineiros e seguranças recebiam empréstimos fictícios no valor de até 5 milhões de euros, com a promessa de que a dívida permaneceria apenas no papel. Os gerentes retiravam o dinheiro, mas a dívida permanecia nos livros do banco e no histórico de crédito dos “laranjas”.
3. Bônus maternidade
Em 2013, investigadores detiveram um grupo de fraudadores que haviam lavado um total de 180 milhões de dólares em um esquema envolvendo bônus maternidade.
O auxílio, que passou a ser concedido pelo Estado após 1º de janeiro de 2007 para as famílias que tenham, ou adotem, um segundo filho (ou subsequente), tem por objetivo melhorar a situação de moradia ou cobrir despesas educacionais de uma das crianças.
Na prática, porém, começou a ser usado por criminosos para lavar dinheiro. Segundo o Ministério do Interior russo, um grupo composto por mais de 400 empresas reuniu informações sobre famílias em apuros, sugerindo formas de faturar com o benefício.
Os fraudadores concediam às mulheres créditos especiais equivalentes ao montante do bônus (cerca de US$ 6.500 na época), supostamente para comprar uma casa. Na sequência, os criminosos adquiriam uma propriedade, em nome das mães, por um valor inferior ao declarado e entregavam aos órgãos estatais documentos atestando a compra. Com base nesses documentos, o bônus era pago em dinheiro, e os criminosos repassavam às mulheres apenas parte do valor concedido – entre 30% e 80% acabam sendo embolsados pelos próprios criminosos.
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