“Aqui está o seu Dia de São Jorge, vó!” — o que significa a expressão russa?

Russia Beyond (Foto: Museu da Arte da região de Irkutsk)
Este provérbio com conotação negativa indica esperanças repentinamente não concretizadas e uma reviravolta nos acontecimentos. E a sua origem está profundamente enraizada na história.

Para entender o significado da expressão “Vot tebé, bábuchka, i Iúriev den!” (“Aqui está o seu Dia de São Jorge, vó!”, em tradução literal), é preciso antes lembrar (ou descobrir) o que, na verdade, é ‘Iúriev den’ — ou ‘Dia de Iúri’.

De acordo com o calendário da Igreja Ortodoxa Russa, este é o dia de São Jorge. Porém, na versão eslava, São Jorge foi traduzido como Iúri. Por exemplo, o príncipe Iúri Dolgorúki é o fundador de Moscou, enquanto o santo padroeiro de Moscou é São Jorge.

O Dia de São Jorge/Iúri, também considerado o padroeiro dos agricultores na Rússia, cai em 26 de novembro — a essa altura, os últimos trabalhos agrícolas e de preparação para o inverno estavam geralmente concluídos.

Os camponeses na Rússia tinham o direito de trocar de um senhoril para outro apenas uma vez por ano. No Código de Direito do Grão-Duque Ivan 3º de 1497 (também conhecido como ‘Sudebnik’), foi estabelecido um único período de transição para todos: uma semana antes do Dia de São Jorge e uma semana depois dele. Portanto, o “Dia de Iúri” tornou-se meio que um sinônimo de libertação, embora ilusória e de curta duração.

No entanto, à medida que os camponeses se tornaram mais escravizados e a servidão foi legislada, eles foram proibidos de realizar a troca, mesmo no “Dia de Iúri”. O documento com a data exata em que foi abolida a possibilidade de mudança não foi preservado, mas sabe-se que as primeiras proibições foram introduzidas pelos tsares Ivan, o Terrível, e depois por Boris Godunov.

Os camponeses que estavam nas mãos de proprietários de terras maldosos e sonhavam com o “Dia de Iúri” para deixá-los, de repente, se viram privados de tal possibilidade. Assim, “aqui está o seu Dia de São Jorge, vó” é uma frase sarcástica que surgiu no século 16, indicando que não haveria mais liberdade.

Há também outra versão da origem da expressão: após o fim dos trabalhos agrícolas, os camponeses costumavam celebrar como se não houvesse amanhã. A bebedeira podia durar uma semana toda e, quando os homens recuperavam o juízo, descobriam que o período de transição já havia passado.

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