Os pais russos buscam dar a seus filhos a educação mais multilateral possível, inscrevendo-os em diversas atividades fora da escola e prontos a ajudá-los financeiramente até mesmo depois dos 18 anos - mas somente se eles estiverem fazendo algo “para valer”. E estas são apenas algumas das peculiaridades do modo como os russos criam seus filhos.
1. Interesses diversos
Balé, biatlo ou desenho? Na Rússia, os pais raramente limitam seus filhos a apenas uma área. Desde cedo, muitas meninas são enviadas para aulas de dança (inclusive balé) e os meninos vão praticar esportes. Além disso, a criança também pode frequentar aulas de música e de idiomas estrangeiros.
Também se dá grande atenção ao estudo do russo e da cultura mundial: mesmo que uma criança estude em um grupo voltado a matemática ou química, ela ainda terá muitas aulas de literatura de qualquer maneira e, nas horas vagas, frequentará montagens teatrais com os colegas.
Em Moscou, por exemplo, as crianças em idade escolar recebem ingressos gratuitos para diversos espetáculos, assim como para museus.
Na maior parte das famílias, as crianças são rodeadas por mulheres desde a infância: mamãe, vovós e, às vezes, babás (geralmente mulheres adultas). Historicamente, os pais ainda são os principais provedores da família e consideram a educação dos filhos, principalmente os menores, como “tarefa feminina” - mesmo se sua mulher tiver um salário maior.
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Apesar de os pais na Rússia poderem tirar licença paternidade oficialmente (de até 1,5 ano), poucos o fazem. Recentemente, discutia-se nas redes sociais a história do popular apresentador de TV Andrêi Malakhov, que teve negada uma licença paternidade e pediu uma escandalosa demissão, partindo para o canal concorrente.
Também são justamente as mulheres que recebem os auxílios maternidade, entre eles o “capital da maternidade” (um valor de US$ 7.000 pago pelo nascimento do segundo filho na Rússia). Em caso de divórcio, geralmente é a mãe que fica com a guarda dos filhos.
Nos jardins de infância e nas escolas, a maior parte dos professores também é do sexo feminino, e pessoas do sexo masculino exercendo a profissão ainda geram surpresa.
As crianças em idade escolar são consideradas independentes: elas ajudam com a limpeza, sabem cozinhar alguma coisa elas mesmas e cuidam de crianças mais novas.
Aliôna Avgust, mãe de três filhos maiores de idade, conta que, a partir dos 7 anos, as crianças podem ir sozinhas ao pátio dos prédios ou sair para comprar pão ou leite na loja mais próxima.
“Se você mantiver seu filho debaixo da sua saia, ele não terá experiência própria de mundo e viverão apenas o mundo como você conhece, mantendo-se ainda por muito tempo como crianções”, diz ela.
Pela lei russa, adolescentes a partir dos 14 anos podem trabalhar oficialmente (fora do horário escolar) e responder por suas ações em tribunal. Apesar disto, adolescentes com menos de 16 anos não podem ficar sozinhos depois das 22h ou antes das 6h – caso isto aconteça, seus pais são multados em cerca de US$ 80.
4. A criança como parte da sociedade
Em contraste com outros países onde a ideia de individualismo é mais desenvolvida, as crianças na Rússia são educadas para se sentirem parte de um grande coletivo. Enquanto em outros países as crianças podem fazer barulho e ser mimadas em lugares públicos, os russinhos podem ser definidos pela frase: "Pense no que as pessoas vão dizer!"
Na Rússia, estranhos frequentemente dão bronca em uma criança se comportando mal – e isto, aliás, ajuda bastante.
Os pais não exigem tanto assim de seus filhos: chegar em casa no horário certo, ouvir os mais velhos e se comportar bem. Aleksandra Stemkovskaia, mãe de uma criança em idade pré-escolar, diz que, antes de se tornarem adultas, as crianças devem ser poder a serem crianças, e que pouco se exige dos russinhos: “Não andar pelo apartamento em roupa de sair, manter promessas e, mais importante, aprender a se controlar e conter a fúria”.
Em geral, na Rússia se considera a desaprovação social mais efetiva que a punição física. Hoje, apenas 12% dos pais utilizam a última, preferindo cortar o dinheiro (13%) ou o tempo no computador (45%).
Acima de tudo no mundo, os pais russos adoram ensinar e pregar a virtude moral (80% dos russos ouvir esses sermões quando eram crianças e a mesma porcentagem leva adiante esta tradição com seus filhos).
Na Rússia, os filhos, por vezes, são sustentados até os 40 anos, diz Aliôna. “Apesar de, na minha opinião, aos 20 ser hora de se sustentar sozinho, alugar um apartamento e ganhar dinheiro. Mas acontece de outra forma e é difícil para os pais empurrar o filho soleira afora nesta idade.”
Aleksandra diz que gostaria que seu filho começasse a trabalhar aos 16 anos, mas que está pronta a ajudar com taxas de faculdade e até mesmo com o pagamento do aluguel.
"Se ele vier com uma ideia grandiosa, por exemplo, estudar no exterior, eu ajudarei de todas as maneiras que puder", diz.
Apesar disto, ela acha que filhos adultos devem ir viver sozinhos o mais cedo possível, principalmente com a própria família.
Tatiana Rusakova, que tem um filho em idade pré-escolar e uma filha adolescente, concorda. “Se meus filhos precisarem de ajuda com algo sério, ajudarei, mas se eles acharem necessário começar uma família, terão que resolver sozinhos”, diz. Mas ela admite que já comprou propriedades para seus filhos para o futuro.
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