O britânico que é obcecado pelo tsar Nikolai 2° e a família Romanov

Paul Gilbert, fundador da organização Royal Russia.

Paul Gilbert, fundador da organização Royal Russia.

Courtesy Paul Gilbert
Muitas pessoas ao redor do mundo estão interessadas no último tsar da Rússia. Mas poucas são tão apaixonadas quanto Paul Gilbert, que dedicou sua vida a estudar a última família imperial.

Toda uma iconóstase dedicada a Nikolai 2° fica sobre a mesa do escritório de Gilbert no Canadá. Ali, há vários ícones do tsar e de sua família, um busto e a reprodução de um retrato pintado por Valentin Serov.

Um canto do escritório de Gilbert.

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Ao entrar em igrejas ortodoxas russas, Gilbert sempre encontrou uma paz interior que não experimentou em nenhum outro lugar. “Sinto-me entrando em uma máquina do tempo. A arquitetura, as tradições do Velho Mundo, os ícones, o cheiro do incenso associado às liturgias divinas e os coros angelicais nunca deixam de ter um efeito espiritual muito profundo em mim”, diz.

Neste mês de outubro, Gilbert partirá para sua terra natal, a Inglaterra, que ele deixou com os pais ainda pequeno. Ali, ele sediará uma grande conferência em celebração ao último tsar da Rússia, Nikolai 2°, seu 150º aniversário de seu nascimento e seu centenário de morte.

Paul Gilbert no Monumento a Nikolai 2°, em Ganina Iama, próximo a Iekaterimburgo, em 2018. Os corpos do tsar Nikolai 2° e de sua família foram secretamente transportados para este local a partir da Casa Ipatiev, onde eles foram assassinados.

Tudo o que Gilbert faz, especialmente esta conferência, tem por objetivo não apenas honrar o tsar, mas também esclarecer o que segundo ele seriam boatos sobre o imperador criadospor historiadores ocidentais.

Um deles, de acordo com Gilbert, é o de que a morte de Nikolai 2°, em 1918, teria sido recebida com indiferença pelo povo russo. Diários que Gilbert pesquisou dizem que os serviços memoriais para o tsar assassinado foram mantidos em igrejas na Rússia, e que "pessoas de todos os níveis da sociedade choraram e oraram", como registrou então o príncipe Serguêi Golitsin.

Missão de esclarecer

Em 1994, Gilbert fundou o Royal Russia, organização tem por objetivo oferecer informações mais precisas sobre a família Romanov. Seu site oficial compartilha notícias, filmes antigos e fotos sobre as atuais restaurações de palácios, exposições, joias Fabergé imperiais etc.

A revista “Sovereign” (em português, “Soberania”), publicada pela organização Royal Russia, edição N° 7 de 2018.

Gilbert lançou diversos periódicos sobre a história imperial russa. Neles, ele busca dar voz a historiadores russos e apresentar pesquisas baseadas em novos documentos descobertos em arquivos russos desde a queda da União Soviética.

A editora de Gilbert também reproduz diários e memórias de Romanov, cartas e álbuns de fotografias.

No segundo semestre de 2018, será publicada a primeira monografia de Gilbert, “My Russia. Ekaterinburg” (“Minha Rússia. Iekaterimburgo”). Nela, o autor apresenta suas muitas visitas à cidade onde Nikolai 2° e sua família foram mortos a tiros em 1918.

Paul Gilbert na Igreja no Sangue, em Iekaterimburgo, 2018.

Outro livro de Gilbert ainda será publicado em 2019, “Nicholas II in Post-Soviet Russia” (“Nikolai 2° na Rússia Pós-Soviética”).

Caso de amor com a Rússia

Apesar de não ter raízes russas, Gilbert se interessa por tudo o que tem a ver com o país desde a infância. Ele coleciona livros, fotografias e cartões postais antigos em homenagem à família Romanov.

Nos últimos 25 anos, ele se dedicou em tempo integral à pesquisa e escreveu sobre a história da dinastia Romanov. Ele viajou para a Rússia 29 vezes, começando em 1986, quando ainda era tabu falar sobre a família real devido à propaganda comunista.

Paul Gilbert com a Ordem de São Estanislau de 3° classe da Grã-Duquesa Maria Vladímirovna.

O trabalho de Gilbert foi reconhecido pelos descendentes da dinastia Romanov. A Grã-duquesa Maria Vladimirovna, neta da prima de Nikolai 2°, chegou a condecorá-lo.

Em 1998, Gilbert foi convidado para um reenterro histórico em São Petersburgo dos restos mortais de Nikolai 2°, de sua esposa e de três de seus cinco filhos. Lá, Gilbert se conheceu representantes de outro ramo dos descendentes dos Romanov, os príncipes Nikolai e Dmítri Romanovitch.

‘Romanovfilos’

A vindoura conferência na cidade inglesa de Colchester reunirá cerca de 150 participantes de todos os cantos do Reino Unido, assim como da Europa (até mesmo do Vaticano), e de lugares tão distantes como o Canadá, os EUA e a Austrália.

“Eles vêm de todas as áreas e incluem historiadores, cristãos ortodoxos, membros do clero, monarquistas e simpatizantes de Nikolai 2°”, diz Gilbert.

Gilbert no monastério Porosenkov Log, em Iekaterimburgo, em 2018.

Um século após o assassinato dos Romanov, o legado da família perdura e eles têm sido assunto de inúmeros livros, filmes, documentários, exposições e fóruns. O trágico episódio da história atrai muita atenção até os dias atuais. Segundo Gilbert, seu site teve mais de 5,6 milhões de acessos em 2017, e a página do Facebook tem mais de 160.000 seguidores de todo o mundo.

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