Luxo e pobreza se misturam nos apartamentos comunais de São Petersburgo

Antigos palácios cujos quartos são ocupados por diferentes famílias – kommunalki – são bastante comuns na “capital do norte” da Rússia. Muitas vezes conservados, seus interiores pré-revolucionários são hoje divulgados por meio do trabalho de Maksim Kosmin, blogueiro e fundador da comunidade on-line Old Fund.

São Petersburgo é a cidade russa com o maior número de apartamentos comunais, os chamados “kommunalki”. Neles, vários quartos são interligados por corredores, cozinhas e banheiros comuns. De acordo com dados coletados em 2015, existem ainda cerca de 85 mil desses apartamentos na cidade.

 / <a  data-cke-saved-href="https://www.instagram.com/maax_sf/" href="https://www.instagram.com/maax_sf/" target="_blank">Maxim Kosmin</a> / Maxim Kosmin

“Os kommunalki surgiram pela primeira vez durante o governo de Pedro, o Grande”, diz o historiador Iúri Krujnov. “Quando São Petersburgo estava sendo construída, não havia hotéis suficientes, então, as pessoas mais ricas construíam casas para alugar aos recém-chegados. Foram, basicamente, os primeiros apartamentos comuns.”

Após a revolução de 1917, os bolcheviques tomaram essas propriedades e as transformaram em kommunalki: dividiram o espaço e aumentaram o número de ocupantes por apartamento, empacotando o maior número possível de famílias. As paredes mudavam várias vezes de lugar, de modo que ainda hoje é possível observar resquícios dos antigos tetos de madeira.

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Os interiores que remontam a São Petersburgo pré-revolucionária são reunidos e divulgados on-line pela comunidade Old Fund (como são chamados na Rússia os prédios que datam de antes da Revolução de 1917 e da 1ª Guerra). “É bem possível que esses apartamentos caíam em mãos de pessoas ignorantes, então, nossas fotos tem por objetivo preservar a memória do passado”, explicam os membros do projeto.

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Para o fundador do Old Fund, Maksim Kosmin, os interiores de apartamentos comunais são uma espécie de passatempo. Quando criança, Kosmin viva em uma residência comum nos arredores de São Petersburgo, mas, há alguns anos, mudou-se para um “old fund”, pois queria viver em um prédio antigo com pé direito alto.

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“Visitei um apartamento comunal pela primeira vez há um ano. Isso foi seis meses depois de ter começado a coletar imagens em sites de imobiliárias”, conta Maksim. “Comecei com o projeto quando percebi que os interiores dos apartamentos de São Petersburgo nunca foram adequadamente estudados, e que os mais conservados entre eles estão justamente em kommunalki.”

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Os interiores de apartamentos comunais são os mais bem preservados porque seus moradores estão aguardando o reassentamento e não os reformam, segundo Maksim. “Reformar” na Rússia geralmente significa levar ao chão e reconstruir tudo de novo. Alguns aspectos desses locais estão obviamente em mau estado, já que a vida em comunidade tem um peso sobre as instalações.  comunitária tem um peso pesado sobre os interiores. Mas a chamada “euroremont” (reforma no estilo europeu) destrói ainda mais, acredita o fundador do projeto.

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Maksim localiza os apartamentos de várias maneiras diferentes, desde anúncios imobiliários a placas encontradas ao ar livre. Às vezes, as pessoas enviam-lhe fotos de seus interiores. “Quando vejo uma bela janela com uma moldura histórica, isso indica que pode haver algo dentro que valha a pena conferir. Aí então, tento obter permissão dos moradores”, conta. “Na maioria das vezes, eles não me deixam entrar. Mas os kommunalki também abrigam alguns ‘camaradas’ falantes e sempre dispostos a mostrar o espaço pessoalmente”, continua.

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No Instagram, Maksim também encontra e publica fotos de fornos, molduras de teto, salões de baile e portas muradas. Os interiores de um dos kommunalki mais famosos de São Petersburgo, na rua Suvorov, por exemplo, datam de 1904. Acredita-se que o apartamento possa ter abrigado um teatro devido às estruturas internas. Inicialmente, seus inquilinos pensavam que o teto esculpido era feito de madeira – até que, há alguns anos, ele desabou. No fim das contas, tratava-se de gesso parisiense.

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O entusiasta também oferece tours pelos apartamentos comunais mais expressivos da cidade. As rotas e os locais de encontro são, porém, mantidos em segredo, assim como os endereços dos prédios abandonados que possuem belos interiores. O motivo? Proteger as antigas janelas com vitrais e as lareiras de saqueadores. A inscrição para esses passeios é feita exclusivamente via Instagram.

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Por meio do projeto “Old Fund” também é possível acompanhar vários kommunalki que já foram habitados por moradores famosos. Neste, por exemplo, morou Raspútin. Embora o apartamento não ostente nenhum elemento decorativo de destaque, jornais pré-revolucionários foram descobertos entre as camadas de papel de parede.

Uma característica histórica deste apartamento que sobrevive até os dias de hoje é a porta traseira usada por Raspútin e seu assassino Feliks Iusupov. Um século atrás, na noite de 30 para 31 de dezembro de 1916, ambos saíram por tal porta e se dirigiram ao Palácio Iusupov, no rio Moika. Poucas horas depois, Raspútin foi assassinado.

 / Maxim Kosmin / Maxim Kosmin

Após a revolução, o apartamento de cinco quartos de Raspútin foi transformado em um kommunalka e, hoje em dia, está quase completamente ocupado. De acordo com Maksim, o morador mais recente, um artista que pinta retratos de monges loucos, comprou um quarto ali só por causa da ligação com Raspútin.

 / Maxim Kosmin / Maxim Kosmin

“Os kommunalki deram origem a um certo tipo de ideologia; muitas pessoas se recusavam a se mudar porque precisavam da companhia e da interação que eles proporcionavam”, diz Krujnov. “Mas, atualmente, a maioria dos moradores têm uma atitude negativa em relação aos kommunalki.”

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