Como o algodão derrubou a União Soviética

Investigação do ‘escândalo do algodão’ abriu olhos da população para fraudes e corrupção nos altos escalões do poder soviético na época e teria influenciado de maneira decisiva para a queda do país.
Colheia de algodão, República Soviética Socialista do Uzbequistão, 1973

O algodão era um produto primário de grande importância na União Soviética. Ele era não só um elemento vital na produção de armas, mas também material para roupas baratas para a população.

Azerbaijão soviético, 1979

De acordo com informações oficiais do início dos anos 1980, a União Soviética era líder mundial na produção desta matéria-prima.

Cazaquistão soviético, 1988.

O algodão era cultivado principalmente nas repúblicas centro-asiáticas do Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Cazaquistão. Apesar de elas serem parte da URSS, seu estilo de vida era bastante diferente.

Tajiquistão soviético, 1980

Apesar do governo socialista nas cidades, grande parte do campo ainda funcionava seguindo tradições feudais.

Uzbequistão soviético, 1972

Como uma commodity vital para as autoridades centrais, o algodão era uma verdadeira maldição para algumas regiões. Uma grande quantidade era cultivada no Uzbequistão.

Uzbequistão soviético, 1973

Em fevereiro de 1976, o chefe da República Socialista Soviética do Uzbequistão, Sharaf Rashidov, instituiu que o Uzbequistão deveria suprir a União Soviética com 5,5 milhões de toneladas de algodão todos os anos. Até então, a produção anual era de 4 milhões de toneladas.

Azerbaijão soviético, 1979

O comprometimento feito pelo líder levou as pessoas literalmente à servidão. Quase todos estavam envolvidos na colheita do algodão. Até as crianças deixaram de ir às escolas até que a última fibra de algodão não tivesse sido retirada dos campos.

Turcomenistão soviético, 1978

Mas mesmo com o emprego máximo dos recursos humanos, foi impossível colher tanto algodão. 

Cazaquistão soviético

Para completar o total requerido, os colhedores começaram a colocar pedras nos seus sacos, e vagões vazios eram enviados a Moscou, onde oficiais desonestos recebiam propinas para dizer que estavam cheios.

Uzbequistão soviético, 1976

Assim, no final da era soviética, a produção desta matéria-prima valiosa virou um ímã para fraudes. 

Fidel Castro (esq.) e o primeiro-secretário do Partido Comunista do Uzbequistão, Sharof Rashidov (segundo à dir.) com pastores na fazenda coletiva de Sverdlov, 1963

O sistema inteiro entrou em colapso após a morte de Leonid Brejnev em 1982. Quem subiu ao poder em seu lugar foi  Iúri Andropov, que por muitos anos recolhia “kompromat” (evidências comprometedoras) sobre as autoridades uzbeques.

Turcomenistão soviético, 1977

Reza a lenda que, em 1983, Andropov telefonou a Rashidov e lhe perguntou quanto algodão seria reamente colhido. Rashidov teve uma parada cardíaca durante a conversa, mas houve rumores de que ele tomou veneno.

Uzbequistão soviético, 1982

Pouco depois, uma equipe de investigadores centrais foi enviada ao Uzbequistão para desfazer o esquema do “escândalo do algodão”. A investigação resultou em longa prisão a todos os envolvidos, e penalidades máximas a seus mentores. 

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies