Riazanski: “É importante para a saúde manter na cabeça as coisas orientadas como na Terra”
Evguêni Odinokov/RIA NôvostiVocê pode imaginar um biólogo comandando uma nave espacial? E como é possível ser um cosmonauta sem, ao mesmo tempo, nunca ter estado no espaço exterior?
Essas contradições são personificadas pelo cosmonauta Serguêi Riazanski, que marcou o recorde da mais longa caminhada espacial russa (8 horas e 5 minutos) e levou a primeira tocha olímpica ao espaço. Mas até que surgiram tais oportunidades, Riazanski jamais havia sonhado com essas coisas.
Em sua próxima expedição à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), programada para iniciar em 28 de julho, Riazanski irá liderar a missão espacial, composta pelo italiano Paolo Nespoli e pelo americano Randy Bresnik.
Da esq. à dir., Nespoli, Riazanski e Bresnik, no Centro de Treinamento de Cosmonautas Iúri Gagárin (Foto: Evguêni Odinokov/RIA Nôvosti)
Rumo à ISS
“O lançamento do foguete à noite é uma coisa louca de tão bela. Especialmente quando você observa a partir do cosmódromo. Mas, quando você está dentro do ônibus, em primeiro lugar, não dá para ver nada. Em segundo, você começa a suspeitar que há algo de errado: na verdade, você está sentado em um enorme barril de pólvora. Bem a tempo, escuta-se um ‘bum’ e, em seguida, apenas 528 segundos após a decolagem, você já está em órbita”, descreve.
A ISS é uma espécie de tubo de ferro longo, com 60 metros de comprimento e seis cabines. “Porém, em certa época, nove membros da equipe. Um morava no laboratório, outro no depósito, e outro, ainda, no teto. Por sinal, mesmo em um módulo completamente redondo, temos piso e teto designados. É importante para a saúde manter na cabeça as coisas orientadas como na Terra”, continua.
Cosmódromo de Baikonur, alugado pela Rússia no Cazaquistão (Foto: Global Look Press)
Uma volta completa em torno da Terra a bordo da Estação Espacial leva 90 minutos, de modo que o dia tem 45 minutos de duração, e a noite, outros 45 minutos.
O cosmonauta realiza diariamente duas horas de atividades esportivas. “E ninguém come em tubos. Temos muita comida liofilizada, bem como enlatados”, brinca.
Distância é o problema
“Certa vez, houve uma queda de 70% de toda a eletricidade da ISS e, como resultado, perdemos 70% de todos os computadores. Aconteceu uma situação de emergência no segmento americano. Ligamos para o Centro de Controle de Missão dizendo algo como ‘Houston, temos um problema’, e Houston nos respondeu: ‘Admito. Apenas vá dormir’. Essa foi uma situação realmente estressante. Em último caso, teríamos que voltar para casa (a chance disso era de quase 60%). Mas, enquanto dormíamos, a Nasa reuniu astronautas do mundo inteiro que vinham trabalhando nesse projeto, e eles fizeram várias simulações. Para ser bem sincero, não pensei que fosse mais possível. Mas, no dia seguinte, recebemos instruções sobre o que deveria ser feito.”
Segundo o cosmonauta, a pior coisa sobre o espaço não é, porém, a ocorrência de um problema. “É quando há algo que você esqueceu de fazer na Terra”, diz.
Cosmonautas russos (Foto: ZUMA Press/Global Look Press)
Etapas do treinamento
Um cosmonauta tem que ser capaz, por exemplo, de saltar de paraquedas de um avião e cumprir uma tarefa antes de abrir o paraquedas.
Em outro teste, é preciso ficar preso em um quarto pequeno, sem dormir por três dias e constantemente fazendo algo – nem que seja escrevendo ou falando. “Isso porque, se formos obrigados a realizar um pouso de emergência, será preciso reagir rapidamente, já que um segundo perdido em uma situação como essa pode representar um desvio de 80 a 200 quilômetros de seu destino na Terra”, explica.
Astronauta se alimenta a bordo da ISS (Foto: ZUMA Press/Global Look Pressione)
Cosmonauta sem espaço
“Eu sonhava em ser biólogo desde criança. E, depois de me formar em bioquímica, comecei a trabalhar no Instituto de Problemas Biomédicos. Foi quando a Academia Russa de Ciências anunciou a abertura de vagas para cientistas realizarem experimentos espaciais. Os cientistas deviam ser muito inteligentes ou saudáveis. Sou o segundo tipo, então só fui selecionado como um cosmonauta de pesquisa e teste.”
Em 2005, Riazanski completou o treinamento. Dois anos antes, o ônibus espacial da Nasa, Columbia, havia se desintegrado na atmosfera terrestre matando todos os sete membros da equipe. “O problema era que a Nasa havia dominado todos os locais de pesquisa científica até 2017. E ninguém quer pagar um homem que não vai a lugar algum nos próximos 12 anos. ‘Nada pessoal, apenas negócios’, falei para mim mesmo. E foi só então que realmente despertou o desejo de ir ao espaço”, conta.
Sonhando acordado na IS (Foto: ZUMA Press/Global Look Press)
“Não tinha ido ao espaço, mas participei da missão de 105 dias do programa Mars 500 – uma simulação de viagem a Marte. Durante a coletiva de imprensa após a missão, o diretor da agência espacial russa Roscosmos perguntou quando eu iria ao espaço, e minha resposta foi: ‘Nunca’. ‘Mas você não é um cosmonauta?’, ele me questionou e, sem entender todas as restrições relativas à espaçonave que lança os cosmonautas no espaço exterior, decidiu fazer uma exceção. Foi assim que me tornei o primeiro engenheiro de voo sem educação formal em engenharia.”
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